quinta-feira, 22 de setembro de 2011

FERNÃO DE OLIVEIRA

Fernão de Oliveira nasceu em Aveiro em 1507. Filho de Heitor de Oliveira, juiz dos órfãos em Pedrogão, foi contemporâneo de Pedro Nunes e Damião de Góis. Em 1520, iniciou os estudos no Convento Dominicano de Évora, onde foi discípulo de André de Resende, tendo mais tarde abandonado o convento e rumado para Espanha. Em 1536 estava em Lisboa, altura em que saiu dos prelos a Gramática da Linguagem Portuguesa.

Por volta de 1540 ou 1541 regressou novamente a Espanha, e mais tarde partiu para Itália e Inglaterra. Enquanto esteve ausente de Portugal, a sua vida foi atribulada, cheia de aventuras e missões secretas de carácter religioso. Em Itália fez diplomacia secreta, talvez ao serviço de D. João III, na complexa questão que este rei manteve com a Santa Sé, a propósito dos cristãos-novos. Em 1545 alistou-se a bordo de uma nau francesa, sob comando do barão Saint Blancard, exercendo a actividade de piloto. Pouco depois, foi aprisionado com os companheiros franceses pela frota inglesa. Na passagem por Londres, Fernão de Oliveira frequentou a Corte de Henrique VIII, onde obteve um certo reconhecimento por parte do rei.

Em 1547 voltou a Portugal, onde foi preso pela Inquisição, durante três anos, devido a opiniões pessoais de ordem religiosa, tendo saído em liberdade em 1551, por intervenção do Cardeal D. Henrique.

Mais tarde, em 1552 tomou o cargo de Capelão Real, participou na expedição organizada por D. João III em auxílio do rei de Velez, no Norte de África, onde ficou prisioneiro. No ano seguinte voltou a Lisboa.

Em 1554, D. João III nomeou-o revisor tipográfico da Universidade de Coimbra e, com o título de licenciado, ensinou na Universidade a disciplina de Retórica. As suas desventuras prosseguiram e entre 1555 a 1557 foi outra vez encarcerado. A partir deste período, o percurso da sua vida tornou-se incerto e duvidoso, sabe-se que em 1565, Fernão de Oliveira recebia uma tença de D. Sebastião. Veio a falecer cerca de 1581.

Da sua notável produção literária destaca-se, além da Gramática da Linguagem Portuguesa, o seu primeiro livro impresso em 1536, o Livro da Fabrica das Naos, manuscrito datado de ca. de 1580 (BN COD. 3702), existentes na Biblioteca Nacional. Escreveu ainda, entre outras obras, a Arte da guerra do mar, impresso em Coimbra por João Álvares, em 1555, a Ars nautica (ca. 1570), manuscrito da Biblioteca de Leiden, e a Historea de Portugal, cuja datação é posterior a 1581.

Um dos aspectos que caracterizou este homem do Renascimento foi o espírito crítico e humanista, e é nesta linha de pensamento que se enquadra a obra de Fernão de Oliveira. O fascínio do mar e das artes de navegar atraiu o espírito humanista deste autor, que foi gramático, historiador, cartógrafo, piloto, teórico de guerra e de construção naval.

Nesta época intensificou-se o gosto pelos estudos gramaticais, a elaboração de compêndios de gramática e de tratados técnicos de marinharia. A preferência dos humanistas por estas temáticas, contextualiza-se no período da expansão marítima levada a cabo, por portugueses entre os séculos XV e XVI.