terça-feira, 3 de maio de 2011

A Linguagem como Fator de Exclusão Social

Desfrutar da linguagem permitiu ao homem usufruir de um imenso tesouro, a comunicação. E com este tesouro o homem pode avançar inúmeros territórios, conquistar riquezas e poder.
No entanto, a comunicação entre as pessoas encontra obstáculos devido as peculiaridades da língua, quando os códigos, símbolos e sons utilizados numa mesma comunidade lingüística não são compreendidos ou simplesmente passam a ser ignorados e desprezados.
Há muitas formas de uma pessoa ser excluída socialmente através da linguagem, entre elas, podemos destacar a maneira de falar, levando em consideração diferenças no linguajar e território.
O Brasil possui uma grande extensão territorial, nossa nação é constituída por povos de diferentes descendências e idiomas. E a variedade lingüística é a herança de um legado rico em cultura e costumes que estão presentes em nosso país.
“Apesar de pertencermos a uma mesma comunidade semiótica, há uma diversidade de domínios lingüísticos devido à diversidade das várias regiões que compõem o território brasileiro, onde predominam linguajares com suas características próprias” (FERREIRA, 1999)
Conforme as palavras de Ferreira, o Brasil é um aglomerado de diversos Português falado cada um com suas características próprias.
Muitas vezes as diversidades lingüísticas tornam-se obstáculos no âmbito social, revelando as dificuldades que determinados grupos encontram ao migrarem para outras regiões do nosso país.
Podemos observar o fato no Sudeste que freqüentemente recebe nordestinos em busca de condições melhores de vida, e estes são discriminados pela maneira como pronunciam as palavras.
Mas a questão social da linguagem vai além dos sotaques e variedades lingüísticas, aborda também as dificuldades que um indivíduo alfabetizado encontra ao redigir uma redação com coerência e coesão, ao interpretar um texto e expressar com palavras seus pensamentos e emoções.
Em muitas situações basta mais do que saber ler e escrever, como no ambiente de trabalho onde o profissional faz uso da linguagem para comunicação. A linguagem é fundamental para o desempenho de tarefas como, por exemplo, a elaboração de relatórios. Um profissional dotado de excelentes capacidades intelectuais, capacidade de convivência e trabalho em equipe, mas que encontra dificuldades para redigir um relatório, de certa forma acaba sentindo o efeito deste desvio. Este profissional pode sofrer constrangimentos diante dos seus superiores e colegas, pode perder oportunidades de promoção, sendo excluído pelas características de sua linguagem.
Há também o problema ocasionado pela falta de uma segunda língua, pois num mundo globalizado e cada vez mais exigente é fundamental o conhecimento e fluência em outro idioma. Um bom currículo que não especifica uma segunda língua pode perder pontos na hora da contratação.
Nossa vida e nossas relações sociais estão associadas à linguagem: a maneira como falamos, se utilizamos uma linguagem formal ou coloquial, se utilizamos gírias e palavras no sentido figurado; como escrevemos e se utilizamos uma linguagem objetiva ou literária, se escrevemos conforme as normas gramaticais ou se apenas escrevemos sem nos preocupar com acentos, parágrafos e concordâncias.
Falar bem e saber se comunicar é muito importante na vida das pessoas. Mas nem todo mundo consegue falar com clareza, às vezes por uma má formação e desempenho escolar, ou por problemas cognitivos, físicos e emocionais.
E muitas vezes estes fatores influenciam a exclusão, suprimindo as expectativas do indivíduo em relação à situação que ele estiver vivenciando.
A linguagem passa a ser um fator de exclusão social a partir do momento que a maneira do indivíduo se comunicar e pronunciar as palavras se torna alvo de discriminação e preconceito.
Em “A Magia da Linguagem” Edwiges Zaccur nos permite a seguinte reflexão:
O tema da linguagem é um dos temas da cultura e dos mais importantes, porque a linguagem tem a ver com a gente mesmo, com a identidade cultural, enquanto indivíduo e enquanto classe. Eu sou a minha linguagem; não tenho dúvida disso. É indispensável que a professora testemunhe ao menino popular que o jeitão dele dizer as coisas também faz sentido, é bonito e tem sua própria gramática, ainda que ela lhe ensine outra forma de escrever. (pag.17)
A sociedade deve rever seus conceitos sobre linguagem e como as pessoas utilizam a linguagem no cotidiano, nas verdadeiras necessidades. E o governo deve elaborar propostas na área da educação e mais do que discutir, deve trabalhar para termos um país rico em linguagem e cultura.

Referência
Ferreira, A.P. O Migrante na Rede do Outro. Ensaios sobre a Alteridade e Subjetividade. Editora TeCorá, 1999.
Zaccur, Edwiges (org). A Magia da Linguagem, Rio de Janeiro, Sepe/RJ/DP&A, 1999

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